Por Dr. Guilherme Augusto Murta, médico do trabalho do Sesi Paraná
A conscientização para a importância da saúde mental foi tangibilizada para o mês de janeiro. A cor escolhida foi o branco e analogicamente pode ser compreendida como um recomeço, uma folha em branco”, logo no primeiro mês do ano para uma reflexão sobre a saúde.
O assunto tem grandes proporções e relevância em saúde coletiva. Segundo pesquisa realizada pelo governo brasileiro em 2021 (Vigitel, 2021), 11,3% da população tem diagnóstico médico de depressão. A OMS (2019) apontou que o país ocupa a primeira posição no que se refere à ansiedade. A pandemia de covid-19 foi fator importante para contribuir com elevação de 25% do aumento de depressão e ansiedade.
Além dos prejuízos à saúde, as consequências desta estatística também são econômicas. No mundo, estima-se (WHO, 2022) que foram perdidos cerca de 12 bilhões de dias de trabalho e 1 trilhão de dólares devido à depressão e à ansiedade. Há, ainda, a estimativa adicional de 50% de prejuízo também causados por custos indiretos como perda de produtividade (presenteísmo). No Brasil, mais de 200 mil pessoas foram afastadas pelo INSS por conta de doenças mentais só em 2021.
Diferente de outras patologias que cursam com início e fim bem definidos e com exames complementares exatos, os transtornos mentais têm diagnóstico clínico menos objetivo. Por vezes são confundidos como um traço de personalidade que não há nada a fazer ou uma tristeza passageira. O não reconhecimento como possível doença, prorroga o diagnóstico e terapêutica. E, assim, muitos dias, semanas e meses se passam até que o indivíduo, tendo convivido com a piora da qualidade de vida e redução de produtividade, decida buscar ajuda. Não é por acaso que quando há início de tratamento médico é comum a emissão de atestado médico com muitos dias de afastamento laboral, pois já geralmente o quadro está avançado e demandará de um tratamento mais vigoroso.
É certo que alguns casos de transtornos mentais têm pré-disposição genética. Porém, o meio ambiente e exposição a determinados estímulos são decisivos no desenvolvimento e recidivas de psicopatologias. Muito tem se falado nos fatores psicossociais como risco para ocorrência de doenças mentais. É lógico esperar que um ambiente estressogênico tem a tendência de gerar conflitos e pré-disposição a problemas de ordem psicossocial. A OMS, em 2022, reconheceu a Síndrome de Burnout, caracterizado por esgotamento como doença ocupacional, como uma doença do trabalho.
Não é por acaso que a gestão de riscos psicossociais e promoção de bem-estar no trabalho foi recentemente incluída em auditoria para o sistema ISO (ISO 45003). Há evidências que estes fatores contribuem para prejuízos para as organizações e para a sociedade como um todo. Entre as consequências negativas citadas pela international standard aparecem influências negativas para absenteísmo, turnover, qualidade dos produtos, recrutamento, treinamento, reputação da companhia.
Para manejo dos riscos psicossociais é necessário o comprometimento de todos os níveis da organização, em especial a alta gestão. Os líderes devem ter o adequado conhecimento para identificar o cenário, bem como alternativas de mudanças no sentido de promover sustentabilidade de saúde mental e bem-estar. Para dar mais acesso também a quem não se sente bem, a organização pode disponibilizar um canal de denuncias sobre assédio e outras práticas inadequadas.
Os colaboradores devem se sentir seguros e confiar no sistema para conversar sobre melhorias no ambiente de trabalho, estando empoderados a trabalhar neste tema. Quando há suspeita de adoecimento por doenças mentais, indica-se busca por um profissional especializado que poderá adotar a abordagem mais adequada para reestabelecimento da saúde.
Em relação ao ambiente de trabalho, o ideal é haver uma política estruturada e um programa de saúde mental que englobe diversas etapas para identificação de fatores de risco, treinamentos, informações e terapêutica, contemplando assim desde o rastreamento de fatores psicossociais até indicações de canais de atendimento a pessoas com sintomas. O investimento em um programa estruturado, com apoio da alta gestão e participação dos colaboradores, é uma tendência das melhores práticas de saúde corporativa para garantir saúde e bem-estar sustentável.
Fonte: https://www.sesipr.org.br/informacoes-sst/saude/janeiro-branco–1-38687-470304.shtml